instituto projetos ambientais, em revista

Da Rio-92, o que esperar 20 anos depois?


Crédito: http://rebal21.ning.com/forum/topics/rio-92-contribuicoes-ao


    A Rio-92 foi um dos maiores acontecimentos ao propósito de se criar uma agenda ambiental, assim por dizer um marco regulatório nas discussões ambientais, pelo menos em intenção.
    A reunião que aconteceu no Rio de Janeiro reuniu cerca de mais de 170 países, marcada para Junho de 1992 tinha por finalidade essencial decidir quais as medidas urgentes a serem adotadas em conjunto por todas as nações do mundo (sendo uma realização da ONU) para evitar, se ainda for possível, o fim da vida na Terra.
Um texto interessante e usado como referência nesta postagem se trata do livro ‘A Farsa Ecológica’ de Roberto Freire, assim com algumas transcrições, para nossa reflexão.

“As evidências políticas e científicas dos últimos anos colocam-me entre aqueles que acreditam havermos chegado ao ponto de viragem biológica, a partir do qual a natureza não suportará mais as atuais agressões a sua ordem, ao seu equilíbrio e à sua essência.”

“Faltando cinco meses para a Rio-92 e levando-se em conta que este poderia ser o mais importante evento internacional do século visando o futuro da humanidade, parecia-me sintomático e ao mesmo tempo ‘bandeiroso’ demais o aparente descaso da mídia, que se limitou a pequenas notícias sobre os encontros e debates preliminares que vinham ocorrendo há meses, em várias partes do mundo.”

“Durante os meses de outubro, novembro e dezembro de 1991 pesquisei pessoalmente o que publicavam os jornais e revistas brasileiras a respeito do encontro. Tanto em quantidade como em qualidade tratava-se de informação muito pobre, magra e, frequentemente, tendenciosa. Nada foi divulgado pelos Ministérios ligados à educação, à cultura, à ciência e à tecnologia, nem pela universidade brasileira.”


“Como confiar na palavra ética das grandes potenciais mundiais, participantes e líderes da Rio-92? Será que os países possuidores de usinas termonucleares se dispõem a revelar relatórios honestos sobre a realidade dos riscos a que estão submetendo seus povos e meio ambiente, e a vida no planeta? Ou terão comportamento como dos Estados Unidos quanto aos acidentes ocorridos lá e que foram ocultados de seu povo? Ou agirão como a União Soviética no caso de Chernobyl, acidente que só foi comunicado apenas quando países vizinhos detectaram a presença anormal de radiação em seus territórios? (trecho de artigo publicado no Jornal Estado de Minas em 8 de novembro de 1991, tido como um dos mais inteligentes textos para a época)”


“Não é de se estranhar a importância que a mídia deu, durante os três últimos meses de 1991, à participação dos empresários na Rio-92, divulgando suas ideias. Todo esse trabalho de divulgação, sempre em torno da tese central que propõe desenvolvimento econômico e tecnológico com atenuação dos prejuízos ambientais consequentes, foi custeado pelos próprios empresários, com aplicação de alguns milhões de dólares. Inclusive em seus cálculos eles já descobriram quanto deve custar o que eles chamam de ‘desenvolvimento sustentado’: um trilhão de dólares. E já possuem data para estabelecê-los entre 1992 e 2002.” “Essa quantia equivale ao que se gasta em 14 meses na produção de armamentos e geraria 131 ações práticas que visariam ‘integrar conservação e desenvolvimento; a conservação para limitar nossas agressões à capacidade que a Terra tem de suportá-las e o desenvolvimento para permitir que as pessoas possam levar vidas longas, saudáveis e plenas em todos os lugares.” “Isso diz o documento Caring for the Earth (Cuidando do Planeta Terra). Fruto de três anos de trabalhos de 700 especialistas, está sendo lançado em cerca de 70 países, inclusive o Brasil. Foi elaborado pela WWF (Word Wide Fund for Nature ou Fundo Mundial para a Natureza) com quatro milhões de associados em todo o mundo. (Jornal da Tarde, 24.10.1991, apud Freire, 1992).”


“Os militantes das ONGs vão protestar sempre que algum pronunciamento oficial os desagrade. Eles estão montando um aparelho para medir a sinceridade dos governos presentes à Rio-92. O aparelho foi apelidado de ‘mentirômetro’, uma estrutura retangular com dois metros , 15 lâmpadas coloridas e oito buzinas diferentes, que vai ser instalado no estacionamento do Riocentro – onde a reunião oficial terá lugar.”


“Era então fundamental estarmos lá, presentes e ativos, sobretudo para evitar a fraude e a farsa em que a Rio-92 poderia se constituir, numa espécie de vitória diplomática – ganha nos gabinetes oficiais e papéis inúteis da ONU – na qual os países capitalistas do primeiro mundo fariam falsas promessas, deturpariam pesquisas, para evitar, ainda desta vez, sua rendição. Eles preferem o suicídio – desde que acompanhado de genocídio – à capitulação. Não vamos permitir. Vulcões inativos e silenciosos há séculos, de repente voltam a explodir incontrolavelmente. Não entendemos porque existem vulcões, nem porque silenciam e nem porque voltam a funcionar ameaçadoramente. É assim.”


Crédito da foto: http://essetalmeioambiente.com/rio20-economia-verde-desenvolvimento-sustentavel-e-erradicacao-da-pobreza/


     20 anos depois...

     Nesse período que antecede o evento da Rio +20 e a estruturação de sua realização, já se afirma, por parte dos cientistas, que o evento não priorizará as questões ambientais.
     Possivelmente o reflexo da cultura brasileira como país organizador (ainda sem uma agenda ambiental vigente) e sua antítese ao crescimento a qualquer custo, em face de ser, por exemplo, o maior produtor agrícola, torna a questão ambiental inacessível ao seu real teor - de problematização e de ações positivas para soluções de um tema sistêmico.
     20 anos depois ainda parece estarmos começando... clique e veja uma das matérias desta semana.


Referência                                   


Freire, R. A Farsa Ecológica. Rio de Janeiro-RJ: Ed. Guanabara, 1992. 102 p.